A gestação transcorreu sem maiores contratempos. Apesar das dores e desconfortos, a pressão arterial se manteve perfeita e o diabetes gestacional não deu as caras. Tanto melhor. Porém em todas as USG's realizadas, víamos que Davi seria um bebezão. Algumas vezes, a vontade de ter um parto normal cedia lugar à frustração, porque ele resolveu quase na reta final, ficar sentadinho. O médico responsável pelo exame dizia que ele dificilmente viraria, tanto pelo tamanho quanto pelo espaço disponível para a manobra. Mas Davizinho foi astuto e sorrateiro, virou-se mesmo assim.
Estava prestes a entrar na 40ª semana de gestação e não sentia nenhum sinal de que ele viria ao mundo, mas comecei a sentir tantas dores na pelve que mal conseguia me mover dentro da minha própria casa. E algo começou a me perturbar, lá dentro. Coração de mãe, sabe? Resolvemos marcar uma nova USG para a terça-feira, dia em que eu estava com 39 semanas e 4 dias de gestação. No exame, constatamos mais uma vez que Davi seria bem grande. Mas também que tinha a circular de cordão no pescoço, coisa que havíamos visto em outros exames. Mas o pior mesmo foi saber que não tinha quase líquido amniótico e que seu coraçãozinho estava muito acelerado. Poderia a qualquer momento entrar em sofrimento fetal. O ultrassonografista aconselhou uma interrupção ainda naquela semana.
Saí da clínica direto pra maternidade. Como não fiz pré-natal particular, meu parto seria pelo SUS, com o plantonista que a sorte me mandasse. Só que eu não sou mulher de acreditar em sorte. Prefiro fazer a minha, não espero cair do céu. Mesmo porque, valha-me Deus, a Santa Casa está lotada de médicos chulé, não queria de maneira alguma cair nas mãos de um deles. A partir de então, pesquisando com pessoas que tinham contato lá dentro, descobri que no dia seguinte estariam os melhores médicos da maternidade fazendo plantão. Definimos eu e o Flávio: a quarta feira seria o dia D.
Com todos os preparativos finalizados, aguardei o dia seguinte. O Flávio ainda saiu para trabalhar pela manhã e perto do almoço retornou. Saímos de casa nós 4: Flávio, os meninos e eu. As crianças ficaram na sogra, eu e ele seguimos para a maternidade. Eu com o coração na mão me questionando se estava fazendo o correto.
Cheguei no hospital fazendo cara de dor. Estava fingindo, obviamente, mas precisava me infiltrar ali, conseguir um pouco de atenção. Fui encaminhada para o andar da maternidade, depois de uma longa espera fui chamada pela médica plantonista, a mesma que cuidou de mim nas gestações anteriores. Estudou meus laudos, me ouviu e no exame clínico, constatou que eu tinha 3 cm de dilatação. Fez uma manobra ali mesmo, o descolamento de membrana. E me mandou para um exame de cardiotocografia. Gente, e não é que imediatamente comecei a sentir cólicas e mais cólicas? Eram contrações! Entrei ali mesmo em trabalho de parto. Com o resultado da cardiotocografia, a médica veio me procurar e comunicou que eu seria internada. Meu Davi chegaria logo! Vesti meu camisolão, a sensação de ir para o abate era eminente. Eu jurava de pé junto que enfrentaria uma cesárea! E as dores, ahhh, cada vez mais intensas e próximas. Não demorou muito e as contrações vinham a cada minuto, terríveis, junto com os puxos. Em menos de duas horas eu estava banhada em suor e morrendo de dor. Muita dor!
Chamei a enfermeira, comuniquei os "puxos" e ela foi até a médica que faria meu parto. Logo pediu para me ver. Entre as enfermeiras, o comentário geral era de que eu iria para o CO, faria uma cesárea. Eu com tanta dor, o que mais queria era que tudo acabasse logo, não importava mais o tipo de parto. Mas a médica assim que me examinou constatou 6cm de dilatação e me mandou para a sala de pré-parto, onde já fui ficando peladona e me metendo sob uma ducha quentinha. O Flávio me acompanhando sempre, acho que estava meio desnorteado mas em momento algum saiu do meu lado. Lembro de muito pouca coisa desde então. Acho que a dor muito forte me fez de alguma forma sofrer alguns lapsos de memória.
Lembro que deitada na maca, gemia e urrava, os puxos vinham e eu forçava. A médica por sua vez, forçava o colo do útero, dizia que era pra ajudar, mas eu urrava ainda mais de dor. Ela pedia força, eu agarrava nas minhas próprias coxas e empurrava, empurrava... clamava por anestesia e ela se negou dizendo que eu estava indo bem. Estourou minha bolsa, pediu mais força. Até que senti o tal do círculo de fogo - quando o bebê finalmente coroa - algo que não senti no parto do Arthur por estar anestesiada. Foi nesse instante que me bateu o desespero, afinal não estava na sala de parto e eu teria que andar até lá. Gritei, perdi o acesso do soro, saí andando com as pernas abertas e segurando lá embaixo, morrendo de medo do Davi cair de dentro de mim. O Flávio conta que parecia Macunaíma hahahaha.
Lembro de me ajeitar na mesa de parto, naquela posição maldita de frango assado, toda suja de tudo quanto é coisa que vocês podem imaginar (eu disse tudo) com a dignidade enfiada na bunda. Lembro da médica anunciando a maldita episiotomia e eu dizendo que não. Lembro ainda de ouvi-la dizer: na próxima força, ele sai. E em segundos, o puxo veio e eu senti Davi escorregar todinho pro lado de fora. A enfermeira me mostrou aquele pacotinho choroso e logo botei a placenta pra fora. Fiquei ali sendo costurada enquanto cuidavam do meu meninão. Incrível como toda a dor passou e como a minha consciência retornou. Logo ele veio pros meus braços, todo empacotadinho e juntos fomos para o quarto. Em cerca de uma hora, estava já tomando banho e cuidando do Davi. As horas que se passaram depois rendem outro capítulo, que eu chamarei de: Sobrevivi. Sim, porque ficar sozinha, recém parida, sem ajuda, é realmente questão de sobrevivência... Mas deixa para outro post, agora quero mesmo é babar no meu príncipe!
Hoje faz 15 dias!!!!